Fatos e Opiniões
09/04/2007
Editorial
Montar um website sem ter uma estratégia para torná-lo conhecido é o mesmo que abrir uma loja numa rua por onde não passa ninguém
As promessas do comércio eletrônico não conseguiram, ainda, motivar os comerciantes sorocabanos, que, segundo informou ontem este Jornal ("Empresas locais resistam ao uso do comércio eletrônico", página C1), mantêm com a internet uma relação de receio e desconfiança, isso. apesar do crescimento vertiginoso do comércio on-line e dos muitos casos de sucesso acumulados na curta história da rede mundial em nosso pais: somente no ano passado, segundo a pesquisa Webshoppers, do Grupo de Pesquisas E-bit o faturamento das lojas virtuais brasileiras cresceu 76%. batendo na casa dos R$4.4 bilhões. Para este ano, a previsão de faturamento é de R$6,4 bilhões, com um crescimento de 45% em relação a 2006.
Fatores como segurança e custo elevado são apontados por especialistas como os grandes responsáveis pela hesitação das empresas comerciais da cidade em relação ao comércio on-line. De fato. esses problemas existem, mas vêm sendo superados com tecnologia e criatividade por milhares de empresas virtuais, que conseguiram ampliar seus mercados e encontrar novos nichos de consumo graças á Internet. Pequenas empresas, que não dispõem de capital para empregar na produção e manutenção de sites próprios, contam Inclusive com a possibilidade de fazer negócios sem nenhum Investimento, através de sites especializados, que cobram uma pequena comissão pelas vendas concretizadas.
Isso não quer dizer que todos estejam errados em ignorar a web. Efetivamente, para multas empresas (especialmente aquelas que, pelas características de seus serviços e produtos, restringem sua atuação ao público Iocal), a internet talvez possa oferecer multo pouco, pelo menos em relação a suas estratégias de vendas atuais. Uma locadora de DVDs ou uma quitanda, que Já tenham um bom serviço de atendimento por telefone, provavelmente não verão vantagem em ter um website sofisticado para oferecer seus produtos. Em contrapartida, uma confeitaria especializada em doces finos ou uma loja de antigüidades poderão multiplicar suas clientelas, deixando de atender exclusivamente ao público local para vender seus produtos em todo o Brasil.
Boa parte da desconfiança em relação ao comércio eletrônico se deve às experiências frustradas, mas è preciso levar em conta que, na maioria dos casos, o fracasso é decorrência de uma postura equivocada das próprias empresas. Montar um website sem ter uma estratégia para torna-Io conhecido é o mesmo que abrir uma loja numa rua por onde não passa ninguém. Avaliações de mercado e campanhas publicitárias são requisitos indispensáveis para quem quer vender pela internet. E, paradoxalmente, nem sempre a Internet é a melhor mídia para conseguir clientes: basta lembrar que os principais portais de Internet jamais abrem
mão da propaganda em jornais, revistas e TV.
Não se pode também esquecer que as mesmas regras que valem para o comércio convencional continuam valendo no comércio on-line: é preciso ter qualidade e, sobretudo, preços baixos, até porque a comparação de preços em segundos é uma das facilidades principais desse meio. E, num mercado competitivo, em que o cliente "entra" e "sai" das lojas com um único clique, é preciso pensar em promoções e maneiras de cativar o comprador. Um dos maiores sites de vendas mundiais lançou, recentemente, um talk-show no estilo JÔ Soares Onze e Meia, em que o comediante Bill Maher entrevista cantores, escritores e atores, para falar dos discos, livros e filmes colocados à venda. Entre os entrevistados, estão nomes como o escritor Stephen King, a atriz Teri Hatcher e o diretor de cinema Sydney Pollack.
Idéias como essa deixam a Impressão de que a internet, em larga medida, está por ser inventada. Mas, para muitos o grande desafio ainda é descobri-la.
Publicado em: Jornal Cruzeiro do Sul (Sorocaba)